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O Retrato de Dorian Gray

Antes de mais nada agradeço ao meu amigo Ariel, dotado de uma enorme paciência para conversar comigo durante horas a fio, seja porque amei um livro ou porque o odiei (o que demonstra que de minhas obsessões não se pode fugir, ainda que você nada tenha haver com isso), pela enorme confiança de me permitir escrever sobre livros em seu blog, tendo ele próprio feito Letras e ser um leitor tão voraz quanto eu ou até mais, e que tão gentilmente me permitiu escolher a respeito de qual livro escrever para que me sentisse absolutamente a vontade. ¬¬

Sem mais delongas vamos ao livro de fato. Esse livro em especial não faz muito tempo que o li, embora já estivesse na minha lista há algum tempo (embora quem me conheça possa ficar absolutamente estarrecido com a notícia, sim, em algo na minha vida eu tento ser organizada, detalhe para palavra tento). Mas, a oportunidade surgiu mesmo quando o Ariel, o dono do blog, me emprestou três livros e dentre eles O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde, o que ajuda a comprovar que não basta ter uma obsessão por um assunto, tem que arrastar os outros juntos para a mesma, afinal as salas de espera dos consultórios psiquiátricos seriam lugares muito solitários se não houvesse amiguinhos conosco. Claro que todos temos pelo menos uma vaga noção do que seja a história deste livro antes mesmo de lê-la, já que é um clássico do qual há inclusive inúmeras adaptações para cinema e peças em geral. Lançado inicialmente em junho de 1890 para o Lippincott's Magazine e em março de 1891 como volume com mais alguns capítulos e um prefácio no qual faz a declaração célebre: “Não existem livros morais ou imorais. Os livros são mal ou bem escritos. É tudo”.
O enredo se passa na Inglaterra Vitoriana onde o jovem Dorian Gray, um rapaz extremamente belo e portador de um carisma sem igual, através de um evento da alta sociedade conhece e torna-se amigo de Basil Hallward, um pintor talentoso que se encanta com o rapaz transformando-o em modelo para suas obras, fazendo dele sua fonte de inspiração. Influenciado pela presença de Lord Henry Wotton, um homem de uma filosofia hedonista e de grande eloquência que Dorian conhece no estúdio de Basil, o rapaz exasperado pela efemeridade da beleza, declara diante de seu retrato que nada teria a que não estivesse disposto a dar para que o quadro envelhecesse e ele não. Até mesmo a própria alma. Daí por diante começa de fato a trama. Porém não pretendo entrar em maiores detalhes, até mesmo porque a ideia é de que as pessoas leiam o livro.
Porém o que eu tenho para comentar deste livro. É que nada do que eu vi a respeito da história antes de lê-la mesmo, me preparou para a torrente emocional que é essa obra e digo isso sem nenhum exagero. Acontece que não é só a história em si que é arrebatadora mas, como ela é conduzida que te deixa sem fôlego. Eu poderia chegar aqui e dizer que O Retrato de Dorian Gray é uma versão moderna do mito de Narciso, de quão desprezíveis são as atitudes do Dorian e sobre a capacidade corrosiva que ele tinha de destruir todos a sua volta e ainda criar desculpas para cada uma das suas falhas das quais ele sempre era a “vítima”, a ponto de que até mesmo suas atitudes “redentoras” não passavam de mais uma forma de superioridade regada a tédio. Mas o que mais me impressionou por mais estranho que possa parecer, pois o Dorian faz coisas terríveis, não é nem a figura do Dorian e tudo o que ele faz, mas a maneira como as pessoas reagiam a ele. A maneira como sua juventude se transforma numa prova cabal de inocência e a capacidade que as pessoas tem de transferir a verdade para “verdades” mais aceitáveis. Este é um livro em que não existe bons ou maus, o principal duelo que existe no livro não são entre as pessoas, e sim entre ideias, o que ironicamente vez por outra por mais que sejam “opostas” parecem que conspiram apenas para provar a mesma teoria, de que a sociedade é em essência hipócrita.
Esse é um livro muito rico e com centenas de variáveis a abordar, o que o torna muito complexo para falar. Vou encerrar com uma frase de Lord Hery que a meu ver fala muito da alma desse livro.
“Possivelmente, nunca parecemos tão à vontade como quando temos de representar um papel”. (Lord Hery)


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