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Mito da Caverna: Antigo ou Atual?

Olá meus amigos, como vão vocês? Sei que faz alguns anos que não escrevo aqui, mas graças a alguns incentivos resolvi retomar meu “trabalho”. Pensei em trazer a pauta um tema de relevância. Acredito que todos, ou pelo menos quase todos, já ouviram mencionar o assunto, de ordem majoritária filosófica, “Mito da Caverna”. Nunca ouviu? Ok, sem pânico, a tempo para tudo. Pois bem, vou tentar explicar da forma mais resumida possível.
Sabe esse vídeo acima que postei? Então, ele meio que mostra de forma interativa uma adaptação feita pelo Maurício de Souza do que seria o “Mito da Caverna”. Mas, antes de começar a esmiuçar sobre o que se trata o assunto (apesar dessa adaptação explicar de forma bem dinâmica e de fácil compreensão), e acerca do que me motivou, de fato, a falar sobre essa questão foi uma pergunta que me fiz neste momento da minha vida, ou seja, o período do meu curso de graduação em Letras no qual estudei sobre o tema; essa pergunta foi: “Qual a relevância de falar sobre a ‘Caverna’ nos dias atuais? Será que essa tese é algo restrito aos dias em que foi desenvolvido, no caso a Antiguidade Grega, ou será que podemos observar a ‘Caverna’ de Platão agora? Em nossos dias”. Então, pegue uma Coca-Cola e um balde de pipoca e vamos começar a nossa conversa (exatamente, como sempre foi a proposta desse blog isso não é um monólogo, quero uma conversa, algo que enriqueça os dois lados. Eu que escrevo, e você que lê e comenta).
            Tratando em poucas palavras, Platão nos trouxe uma alegoria impressionante, concordando ou não com ele sobre todos os aspectos que englobam a teoria exposta em A República. Nesse livro clássico, onde Platão lança o esboço do que para ele seria uma “Cidade Ideal”, ele lança mão de uma alegoria, mais especificamente no Livro VII (caso alguém tenha o livro e queira conferir), que levaria a reflexão não só sobre como seria a construção de uma “sociedade ideal”, mas uma reflexão sobre a vida em si e como enxergamos o mundo a nossa volta juntamente com a nossa noção de realidade. Pois bem, Platão, tomando como personagem central de sua obra seu antigo mentor, Sócrates, monta uma parábola. Ele diz para que imaginemos uma caverna subterrânea cheia de prisioneiros encadeados, com grilhões nas pernas e na cabeça de modo que só pudessem olhar para frente. Diz ainda mais, pede para que imaginem uma fogueira num local atrás um pouco acima deles. De longe, chegaria até eles a luz dessa fogueira que traria uma projeção de tudo o que se passa atrás deles; resumindo, tudo o que eles veriam seriam as sombras projetadas dos objetos que passariam ou estariam de trás deles. Pedia ainda para que supusessem que esses homens encadeados só conhecessem essa realidade disforme como “realidade”, ou seja, tudo o que eles conhecem da vida seria aquela realidade de prisioneiros de dentro da caverna. Pensando assim, tudo o que veriam ali tomariam ou não tomariam como a realidade absoluta? A resposta a essa pergunta, claro que não poderia ser outra; sim, esses prisioneiros acreditariam que tudo a respeito da vida se resumiria ao cotidiano apresentado para eles através das sombras projetadas na parede da caverna. Isso para o pensamento de Platão é o que se passa conosco. Para ele, tudo o que vemos, ouvimos ou sentimos por meio de qualquer uma das experiências sensoriais, não passariam de reflexos do que de fato seria o “Mundo Real”, isto é, um mundo metafísico das “ideias” onde realmente encontraríamos a essência das coisas. Atrapalhados e confundidos pela “escuridão” a que permanecemos, tomamos as projeções sensoriais como o real, enquanto na verdade nos encontramos é aprisionados dentro de um plano inferior que nos impossibilita de ver verdadeiramente o “Real”. Essa é a alegoria feita por ele. Trata-se de uma visão irrefutável? Não, inclusive foi refutada por seu próprio discípulo Aristóteles posteriormente, mas isso não significa que não haja pontos de contato e de ressignificação que não possam ser possíveis dentro dessa convicção.
            A questão que eu vim levantar, ao trazer essa linha de raciocínio apresentada por Platão a tantos anos atrás, é: será que não estamos, atualmente, turvados por um excesso de informação e exposição sensorial que esteja nos impedindo de refletir sobre questões não só de natureza prática mas também de natureza reflexiva? Em nosso mundo atual será que usamos as tecnologias e as mídias digitais de forma inteligente e produtiva, isto é, como uma mediatizadora de conhecimento e interação social que nos torne tolerantes e abertos para novas culturas, ou nos confundimos com elas nublando nossas noções de realidade. Todos atualmente estamos rodeados de estímulos sensoriais o tempo todo, permanecemos conectados e tendo acesso a informação praticamente em tempo integral, o que não chega a ser ruim. Um veículo que nos possibilite ter uma interação e busca por informação em qualquer parte do mundo não precisa ser nocivo, pelo contrário, tem tudo para unir e integrar as pessoas das mais variadas formas. Mas é de fato isso que está acontecendo? Ou estamos como no vídeo, parados e encantados pelas sombras que agora não saem advindas do fundo da caverna, mas da tela da televisão ou dos tablets. Quero deixar bem claro que não é minha intenção “demonizar” o avanço tecnológico, pelo contrário, se estou conseguindo levantar essa questão com vocês é justamente por ter um respaldo tecnológico. O que não podemos permitir é que algo tão frutífero quanto a possibilidade de interação por meio da internet e outros canais de comunicação seja usado de forma a alienar e esmagar o pensamento reflexivo e crítico. Termino essa explanação com um clamor, não permitamos que tirem das mídias digitais o que elas tem de melhor que é a sua possibilidade de transformação e união pela busca do conhecimento. Despeço-me de todos e até a próxima.

Larissa Michaella Machado de Campos

Referências:
Platão, A República; 1edição. São Paulo, Editora: Martins Fontes. 2006

Disponível em: CAPACITAR BRASIL

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