B"H
Olá pessoas!
Achei que nunca fosse conseguir postar essa resenha mas aqui estou eu. É frustrante quando você demora meses pra conseguir ler as cinco primeiras páginas de um livro simplesmente porque não encontra tempo pra isso. Vejam, não é descaso com o blog nem com vocês, o fato é que estudar e manter um blog como esse funcionando é uma tarefa um pouco complicada pra mim. Enfim, vou parar de choradeira e começar logo a análise do livro.
Estamos em 1991 em Nova Orleans, novamente na companhia de nosso velho amigo Lestat de Lioncourt algum tempo depois dos terríveis acontecimentos narrados em A Rainha dos Condenados. Neste livro, Lestat é novamente o narrador que já passou por todas as experiências que serão descritas e está rememorando tudo com um novo toque de nostalgia. Na verdade ele faz questão de dizer que este livro é muito auto centrado (acreditem, muito mais do que o próprio O Vampito Lestat) e que em momento algum a ordem e a existência do mundo serão ameaçadas (como foi em A Rainha dos Condenados) nem mesmo os enigmas e charadas da existência sobrenatural com seu frustrante desfecho obscuro e sem respostas. Nada disso, esse é um livro sobre a tragédia pessoal de Lestat. As ordas de vampiros que povoaram o último livro não serão personagens deste, os antigos e os Filhos dos Milênios não aparecerão se não em flashes muito rápidos. Na verdade o livro trata sobretudo de três personagens: Lestat, David Talbot (o chefe da Talamasca que se torna amigo e confidente de Lestat ao final de A Rainha dos Condenados) e Raglan James. Lestat está novamente sozinho após terem se retirado um a um todos os vampiros que habitaram por um tempo a Ilha da Noite (uma ilha criada por Armand no final de A Rainha dos Condenados para servir de refúgio a confraria dos sugadores de sangue que restaram). Ainda consumido por sua obsessão amorosa por David Talbot, Lestat começa a ser perseguido por um humano que se atreve a chegar perto do vampiro o suficiente para lhe entregar três envelopes com obras literárias impressas em papel vulgar. É um rapaz muito bonito, de mais ou menos 26 anos, 1,90m de altura, corpo musculoso e moreno com lindos cabelos cacheados. Pra quem conhece um pouquinho nosso vampiro preferido não é espanto nem novidade que Lestat fica imediatamente interessado pelo rapaz. Contudo algumas coisas são estranhas: o sujeito parece ser muito desengonçado, tem uma voz não compatível com o corpo e com a idade e sobretudo consegue encontrar Lestat onde quer que este esteja, mas apesar disso é imune as investidas psíquicas do vampiro que, apesar de todo o esforço, não consegue localizá-lo. Lestat logo descobre que o homem é na verdade um Ladrão de Corpos, capaz de expulsar as almas dos corpos que ocupam e tomar o seu lugar. Esse sujeito faz uma proposta muito simples: pelo módico preço de 20 milhões de dólares ele oferece a Lestat uma semana no corpo mortal belo e desejável que está ocupando no momento (e que já havia sido roubado de um terceiro) enquanto ele percorre o mundo com o corpo imortal e indestrutível do vampiro. O que para nós parece absurdo aos olhos de Lestat, sedento por conhecer novamente o que é estar vivo, parece uma chance única de experimentar os prazeres de ser humano novamente. Advertido contra esta loucura por Talbot e Louis, Lestat concorda em trocar o corpo por uma noite, um dia e uma noite novamente mas é covardemente traído pelo Ladrão de Corpos (oh, jura?! Eu nem desconfiava. ¬¬' Vampiro burro!) que foge deixando o agora humano Lestat preso em um corpo absolutamente frágil e sozinho. Lestat então precisa encontrar uma maneira de recuperar seu corpo antes que os Filhos dos Milênios o destruam.
Bem, esse é um livro muito singular se comparado com os três primeiros da série. Uma de suas características mais marcantes é o caráter onírico de sua narrativa. Lestat se vê sozinho em um mundo que ele desconhece, como vampiro e como humano, e precisa descobrir novamente e mais uma vez forças e motivações para continuar vivo. Apesar de ser cheio de ação e pouco mistério, este livro é muito permeado de divagações teológicas e filosóficas que tornam sua leitura por vezes difícil. A impressão que fica é a de que Anne Rice está novamente testando uma nova forma de abordar velhos dilemas, tanto humanos quanto vampíricos. É muito intrigante sim, mas é filosoficamente desgastante em alguns pontos, não porque não tenha o já conhecido brilhantismo de Rice, mas exatamente porque ela é brilhante em mostrar e testar a alma já muito cansada mas tenaz de Lestat. É impossível não ser arrastado para todos os sentimentos que ele descobre e eu particularmente me senti um vampiro sugando deliciosamente o desespero e a ansiedade de nosso amigo Lestat de Lioncourt. É interessante também notar que Anne usa de todos os artifícios possíveis para nos mostrar que esta personagem é completamente complexa e impossivelmente sedutora. A sensação de desamparo é sufocante e desespero é por vezes a coisa mais palpável em cena.
Por vários motivos este é um livro magnífico é completo. É leitura obrigatória para qualquer um que queira se aventurar neste universo místico das emoções humanas. É um retrato da alma do século vinte.
Um último conselho, se você se impressiona ou se ofende facilmente com questões religiosas não leia este livro, vá procurar outra coisa pra fazer, mas não incorra no erro de continuar.
"— Sou o ideal da minha espécie — eu disse. — Sou o vampiro perfeito. Está olhando para o Vampiro Lestat quando olha para mim. Ninguém pode ser melhor do que esta figura que está na sua frente — ninguém! — Levantei vagarosamente. — Não sou um brinquedo do tempo, nem um deus empedernido pelos milênios, não sou o bufão com o gorro negro, nem o nômade contrito. Eu tenho consciência. Sei distinguir o certo do errado. Sei o que faço e, sim, sou o vampiro Lestat. Aí está a sua resposta. Faça o que quiser com ela." (Lestat)
"Quando o mundo, em toda sua beleza, parece vazio e sem coração e eu me sinto completamente perdido. Dê-me minha velha amiga, a morte e o sangue que jorra com ela. O vampiro Lestat está aqui, sedento, e nesta noite de todas as noites não vai deixar de saciar sua sede." (Lestat)
"E minha alma tenebrosa está feliz outra vez, porque há muito tempo não sabe sentir outra coisa e porque a dor é um mar profundo e escuro no qual posso me afogar se não conduzir meu frágil barco habilmente sobre a superfície, sempre na direção do sol que jamais vai nascer." (Lestat)
"Segurando o medalhão, eu queria dizer alguma coisa ao ser que ela tinha sido, e à minha fraqueza, e ao ser voraz e perverso que havia em mim e que havia triunfado mais uma vez. Pois eu triunfei. Eu venci." (Lestat)
Olá pessoas!
Achei que nunca fosse conseguir postar essa resenha mas aqui estou eu. É frustrante quando você demora meses pra conseguir ler as cinco primeiras páginas de um livro simplesmente porque não encontra tempo pra isso. Vejam, não é descaso com o blog nem com vocês, o fato é que estudar e manter um blog como esse funcionando é uma tarefa um pouco complicada pra mim. Enfim, vou parar de choradeira e começar logo a análise do livro.
Estamos em 1991 em Nova Orleans, novamente na companhia de nosso velho amigo Lestat de Lioncourt algum tempo depois dos terríveis acontecimentos narrados em A Rainha dos Condenados. Neste livro, Lestat é novamente o narrador que já passou por todas as experiências que serão descritas e está rememorando tudo com um novo toque de nostalgia. Na verdade ele faz questão de dizer que este livro é muito auto centrado (acreditem, muito mais do que o próprio O Vampito Lestat) e que em momento algum a ordem e a existência do mundo serão ameaçadas (como foi em A Rainha dos Condenados) nem mesmo os enigmas e charadas da existência sobrenatural com seu frustrante desfecho obscuro e sem respostas. Nada disso, esse é um livro sobre a tragédia pessoal de Lestat. As ordas de vampiros que povoaram o último livro não serão personagens deste, os antigos e os Filhos dos Milênios não aparecerão se não em flashes muito rápidos. Na verdade o livro trata sobretudo de três personagens: Lestat, David Talbot (o chefe da Talamasca que se torna amigo e confidente de Lestat ao final de A Rainha dos Condenados) e Raglan James. Lestat está novamente sozinho após terem se retirado um a um todos os vampiros que habitaram por um tempo a Ilha da Noite (uma ilha criada por Armand no final de A Rainha dos Condenados para servir de refúgio a confraria dos sugadores de sangue que restaram). Ainda consumido por sua obsessão amorosa por David Talbot, Lestat começa a ser perseguido por um humano que se atreve a chegar perto do vampiro o suficiente para lhe entregar três envelopes com obras literárias impressas em papel vulgar. É um rapaz muito bonito, de mais ou menos 26 anos, 1,90m de altura, corpo musculoso e moreno com lindos cabelos cacheados. Pra quem conhece um pouquinho nosso vampiro preferido não é espanto nem novidade que Lestat fica imediatamente interessado pelo rapaz. Contudo algumas coisas são estranhas: o sujeito parece ser muito desengonçado, tem uma voz não compatível com o corpo e com a idade e sobretudo consegue encontrar Lestat onde quer que este esteja, mas apesar disso é imune as investidas psíquicas do vampiro que, apesar de todo o esforço, não consegue localizá-lo. Lestat logo descobre que o homem é na verdade um Ladrão de Corpos, capaz de expulsar as almas dos corpos que ocupam e tomar o seu lugar. Esse sujeito faz uma proposta muito simples: pelo módico preço de 20 milhões de dólares ele oferece a Lestat uma semana no corpo mortal belo e desejável que está ocupando no momento (e que já havia sido roubado de um terceiro) enquanto ele percorre o mundo com o corpo imortal e indestrutível do vampiro. O que para nós parece absurdo aos olhos de Lestat, sedento por conhecer novamente o que é estar vivo, parece uma chance única de experimentar os prazeres de ser humano novamente. Advertido contra esta loucura por Talbot e Louis, Lestat concorda em trocar o corpo por uma noite, um dia e uma noite novamente mas é covardemente traído pelo Ladrão de Corpos (oh, jura?! Eu nem desconfiava. ¬¬' Vampiro burro!) que foge deixando o agora humano Lestat preso em um corpo absolutamente frágil e sozinho. Lestat então precisa encontrar uma maneira de recuperar seu corpo antes que os Filhos dos Milênios o destruam.
Bem, esse é um livro muito singular se comparado com os três primeiros da série. Uma de suas características mais marcantes é o caráter onírico de sua narrativa. Lestat se vê sozinho em um mundo que ele desconhece, como vampiro e como humano, e precisa descobrir novamente e mais uma vez forças e motivações para continuar vivo. Apesar de ser cheio de ação e pouco mistério, este livro é muito permeado de divagações teológicas e filosóficas que tornam sua leitura por vezes difícil. A impressão que fica é a de que Anne Rice está novamente testando uma nova forma de abordar velhos dilemas, tanto humanos quanto vampíricos. É muito intrigante sim, mas é filosoficamente desgastante em alguns pontos, não porque não tenha o já conhecido brilhantismo de Rice, mas exatamente porque ela é brilhante em mostrar e testar a alma já muito cansada mas tenaz de Lestat. É impossível não ser arrastado para todos os sentimentos que ele descobre e eu particularmente me senti um vampiro sugando deliciosamente o desespero e a ansiedade de nosso amigo Lestat de Lioncourt. É interessante também notar que Anne usa de todos os artifícios possíveis para nos mostrar que esta personagem é completamente complexa e impossivelmente sedutora. A sensação de desamparo é sufocante e desespero é por vezes a coisa mais palpável em cena.
Por vários motivos este é um livro magnífico é completo. É leitura obrigatória para qualquer um que queira se aventurar neste universo místico das emoções humanas. É um retrato da alma do século vinte.
Um último conselho, se você se impressiona ou se ofende facilmente com questões religiosas não leia este livro, vá procurar outra coisa pra fazer, mas não incorra no erro de continuar.
"— Sou o ideal da minha espécie — eu disse. — Sou o vampiro perfeito. Está olhando para o Vampiro Lestat quando olha para mim. Ninguém pode ser melhor do que esta figura que está na sua frente — ninguém! — Levantei vagarosamente. — Não sou um brinquedo do tempo, nem um deus empedernido pelos milênios, não sou o bufão com o gorro negro, nem o nômade contrito. Eu tenho consciência. Sei distinguir o certo do errado. Sei o que faço e, sim, sou o vampiro Lestat. Aí está a sua resposta. Faça o que quiser com ela." (Lestat)
"Quando o mundo, em toda sua beleza, parece vazio e sem coração e eu me sinto completamente perdido. Dê-me minha velha amiga, a morte e o sangue que jorra com ela. O vampiro Lestat está aqui, sedento, e nesta noite de todas as noites não vai deixar de saciar sua sede." (Lestat)
"E minha alma tenebrosa está feliz outra vez, porque há muito tempo não sabe sentir outra coisa e porque a dor é um mar profundo e escuro no qual posso me afogar se não conduzir meu frágil barco habilmente sobre a superfície, sempre na direção do sol que jamais vai nascer." (Lestat)
"Segurando o medalhão, eu queria dizer alguma coisa ao ser que ela tinha sido, e à minha fraqueza, e ao ser voraz e perverso que havia em mim e que havia triunfado mais uma vez. Pois eu triunfei. Eu venci." (Lestat)
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