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Doces Lembranças da Infância e Laura Ingalls

B"H

Olá pessoal!
Hoje eu quero fazer uma coisa um pouco diferente. Na verdade não é bem que eu queira, mas essa idéia se infiltrou em meu cérebro como um pequeno bichinho carpinteiro e me amolou o juízo até que eu cedesse. Vou misturar um pouco um momento nostalgia (pra mim) com uma resenha de livro. Quero falar um pouco de uma das épocas mais felizes de minha infância. É comum que quando pequenos nós achemos que nossa vida é cheia de tristezas (e eu tinha muitos motivos para isso) mas, quando olhamos para trás, notamos que haviam muitos momentos eternos onde a felicidade era como um grande e caloroso abraço, nunca desejávamos que acabasse.
Eu gostaria que todas as pessoas do mundo pudessem olhar para a própria infância e lembrassem de algum livro que as tenha marcado. No meu caso foram especialmente dois: O Pequeno Lord, da autora anglo-americana Frances Hodgson Burnett, e um outro que falarei mais adiante.

Nasci no Rio de Janeiro em Dezembro do ano de 1984 e logo em Dezembro de 1994 minha família se mudou para uma cidadezinha da Serra chamada Paty do Alferes, onde meu pai nascera. Lá passei o período entre meus 10 e 19 anos. Os primeiros anos foram um período bem difícil porque minha mãe estava em uma das crises mais violentas de depressão de toda a sua vida. Lembro de vê-la definhar quase até a morte diante dos meus olhos apenas por ser incapaz de comer. Graças à D´s, já no segundo anos, a crise diminuiu e ela voltou a uma vida quase normal. Foi durante o inverno do ano de 1996 que conheci (de fato, porque já conhecia por nome) os livros da série "Os Pioneiros" (alguns chamam a série pelo nome do primeiro livro) de Laura Elizabeth Ingalls Wilder. Voltarei já já a isso.
Naquele inverno nós já morávamos sozinhos na casa onde meus pais moram até hoje. Digo sozinhos porque até então morávamos com meus bisavós por causa da doença de minha mãe. Meu pai trabalhava por escala e isso fazia com que ficássemos sozinhos (minha mãe, meu irmão e eu) durante muitas noites. O inverno na Serra é congelante chegando a graus negativos com muita freqüência. Nestas noites de inverno o frio tinha a capacidade milagrosa de encontrar uma forma de chegar até o nosso corpo mesmo com a casa toda fechada e muitas cobertas e edredons. Como meio de tapear o frio nós três dormíamos juntos na cama de casal dos meus pais debaixo de cobertas individuais e edredons coletivos. Era nessa hora que minha mãe pegava um dos livros da série "Os Pioneiros" e começava a ler até que eu e meu irmão inevitavelmente dormíssemos. Era muito comum que acordássemos depois que ela interrompia a leitura e disséssemos que estávamos apenas com os olhos fechados, só para que ela continuasse. Às vezes ela fingia acreditar, outras não. Importante é que eram uns dos momentos mais felizes que me lembro. É óbvio que eu e meu irmão já sabíamos ler, e que minha mãe nos incentivava muito a isso, mas aqueles momentos eram especiais e nada substituía a sonoridade e a cadência de sua voz. Minha mãe sempre leu com muita paixão e isso fazia com que as histórias fossem mágicas. Outro fator importante foi que essa série havia sido a que mais marcou a sua própria infância. Ela lera todos os livros repetidas vezes desde muito nova. Talvez ela não saiba mas eu sempre desejava que aqueles momentos jamais acabassem.
Laura
Laura Ingalls foi uma escritora americana fabulosa e mundialmente conhecida. Nasceu em 7 de Fevereiro de 1867 em Pepin,Wisconsin em uma casa de troncos dentro da Grande Floresta do Wisconsin. Sua série "Os Pioneiros" possui nove livros: Uma Pequena Casa na Floresta, Uma Pequena Casa na Campina, Às Margens da Lagoa Prateada, A Beira do Riacho, O Longo Inverno, Uma Pequena Cidade na Campina, O Jovem Fazendeiro, Anos Felizes e Os Quatro Primeiros Anos. Depois foram acrescentados mais dois que eu não li e que muitos não consideram como parte da série: O Rapaz da Quinta e A Oeste da Casa.
OBS.: Perdoem-me se eu for um pouco sentimentalista e nostálgico, essa é uma história que mexe muito comigo.

Laura e sua família viajaram pelo Kansas, Minnesota e por Dakota, vivendo e construindo o que ficou conhecido como pioneirismo americano. Suas vidas foram repletas de aventuras reais e dramas comoventes.  Esta é uma daquelas histórias que fazem você rir (muito por sinal), prender o fôlego (para asmáticos isso é um problema, lembro de fazer muita nebulização enquanto ouvia a história) e se acabar de chorar. Laura sempre foi uma mulher muito decidida, dona de uma vontade forte (forte demais, diga-se de passagem) que nunca se deixou abater. Sua família construiu a vida do nada (chegaram a morar numa toca debaixo da terra, só pra vocês terem uma idéia) e reconstruiu quando isso foi necessário.  Em 25 de Agosto de 1885 Laura casou com Almanzo James Wilder, usando um belo vestido preto (leia e descubra por que), um belo e abastado rapaz com quem namorara durante dois anos e meio. Apesar de Almanzo ser de uma família com algum recurso a vida dos dois não foi nada fácil principalmente porque ele ficou com uma paralisia nas pernas devido a difteria. Laura e Almanzo tiveram uma filha Rose que mais tarde se tornou uma escritora famosa.
Oito livros da série "Os Pioneiros" tratam da vida da família Ingalls e um (O Jovem Fazendeiro) trata da família Wilder. São livros de incrível sensibilidade que mostram com mínimos detalhes (sem deixar a coisa toda tediosa) a vida e os costumes da época, tanto entre as classes mais pobres quanto entre o que seria a classe média hoje. Com uma linguagem super simples esta é uma história (na verdade é uma saga) impossível de não se apaixonar. A história de uma família que se confunde tanto com a história dos próprios Estados Unidos. Não há como fazer um resumo maior dos livros porque esse post ficaria imenso, mas eu gostaria que todos pudessem ter a chance de conhecer essa fabulosa aventura. A página da Wikipédia sobre a escritora é bem interessante.

Vejam um trecho do livro Uma Casa na Floresta:

"A leste da casinha de troncos, e também a oeste, havia quilómetros e quilómetros de árvores e só umas poucas casinhas de troncos, muito afastadas umas das outras, na beira da grande floresta. Até onde a menina pequenina conseguia ver, só havia a casinha onde ela morava com o pai e a mãe, a sua irmã Mary e Carrie, a bebê. Diante da casa havia um caminho para carroças, que virava e curvava até se perder de vista nas florestas onde viviam os animais selvagens, mas a menina pequenina não sabia aonde o caminho conduzia nem o que poderia haver no seu fim.
A menina pequenina chamava-se Laura e tratava o pai por pá e a mãe por mã. Naquele tempo e naquele lugar, as crianças não diziam pai e mãe, nem mamã e papá, como agora.
À noite, quando estava acordada na cama - que se chamava cama baixa, porque de dia estava metida debaixo da alta, dos pais -, Laura punha-se à escuta, mas só conseguia ouvir o som das árvores a sussurrar umas com as outras. às vezes, um lobo uivava, muito longe, na escuridão. Depois aproximava-se e uivava de novo.
Era um som que assustava. laura sabia que os lobos eram capazes de comer meninas pequenas. mas ela estava em segurança, no interior das sólidas paredes de troncos. A espingarda do pai estava pendurada por cima da porta, diante da qual o velho Jack, o buldogue malhado, montava guarda. o pai dizia:
- Dorme, Laura. O Jack não deixa entrar os lobos.
E Laura aninhava-se debaixo da roupa da cama, muito chegadinha a Mary, e adormecia.
Uma noite, o pai foi buscá-la à cama e levou-a no colo para a janela, para que visse os lobos. Estavam dois sentados defronte da porta. Pareciam cães de pêlo eriçado. Apontavam o focinho para a lua grande e luminosa e uivavam."


Fotos da família:
Ficheiro:Laura and Almanzo.jpg
Laura e Almanzo
Ficheiro:Caroline&CharlesIngalls.jpg
Caroline e Charles Ingalls (pais de Laura)
Ficheiro:MaryIngalls.jpg
Mary Ingalls (irmã de Laura)
Ficheiro:GraceIngalls.jpg
Grace Ingalls (irmã de Laura)
Ficheiro:AlmanzoLrg.jpg
Almanzo Wilder
Ficheiro:RoseWilderLane01.jpg
Rose Wilder Lane
Laura
PS.: Sobre o livro O Pequeno Lord talvez eu fale em outra ocasião. É um livro belíssimo que teve uma adaptação para o cinema. Foi tão importante pra mim que meu primeiro livro (é, eu escrevo. Ainda não publiquei nada mas em breve, quem sabe?) Aprendendo a Amar é um plágio descarado. Mas deixemos essa história para uma próxima vez.

Comentários

  1. Minha família também costumava ler pra mim, acho que esse tipo de interação entre pais e filho é ainda mais rara hoje, devido ao trabalho os pais deixam de passar esse preciosos momentos com seus filho. Como meu pai trabalhava( e trabalha até hoje) durante os 3 turnos, eu costumava ficar acordada até tarde, esperando que ele chegasse para ler alguma coisa pra mim.
    Fiquei bastante curiosa sobre a saga. Muito provavelmente irei ler.
    Ótimo post.
    Disse? Tá dito. :*

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  2. Eu me chamo ppaula,e tb amo Os Pioneiros,quem me apresentou tb foi minha mae pois havia sido os livros da infancia dela,como foi da minha.

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  3. Parabéns pelo post!! Assisti Os Pioneiros quando garoto e hoje estou podendo rever a série no canal TCM...a emoção é exatamente a que você descreve!! Deus abençoe muito a Sra Ingalls Wilder!!!

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B"H
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