Pular para o conteúdo principal

Um rápido olhar em "Entrevista com o Vampiro"

B"H

Olá galera fiel que curte o Mapittom!!! Estive por um tempo pensando o que deveria escrever para esse post que é o centésimo do blog (incluindo as páginas). Realmente não conseguia pensar em nada e não escrevi nada até agora. Estes três últimos dias me iluminaram para um assunto que poderia fazer jus a esse número. Vampiros!!! Na verdade este é um assunto que fascina tanto a mim quanto a Mikhaella, mas quase não foi abordado ainda. O que farei aqui é uma resenha unindo livro e filme. Na verdade é bastante difícil descrever este texto porque não é nem uma resenha tradicional nem um ensaio. Vejamos o que sai!






Minha vontade de escrever sobre Entrevista com o Vampiro surgiu há três dias quando comecei a lê-lo. Eu sempre conheci a história das Crônicas Vampirescas de Anne Rice e já tinha visto o filme algumas vezes. Confesso que apesar de as histórias de vampiros normalmente me fascinarem eu nunca tinha tido muito entusiasmo para ler a série. Protelei algum tempo até que as conversas com meu amigo Jadir (fã incondicional) me fizeram querer devorar os livros desesperadamente. É claro que eu já li outras histórias de vampiros, como a série Crepúsculo, mas falaremos disso mais tarde.

A primeira coisa importante que eu preciso dizer é que não faço a menor idéia de quem é a personagem principal dessa história. Talvez a opinião mais acertada seja de que a própria entrevista seja o centro. Torno a falar disso daqui há pouco.
Louis
O livro narra a entrevista que o vampiro Louis (interpretado no filme por Brad Pit) dá a um repórter em um quarto barato de hotel. O livro não se dá ao trabalho de explicar como os dois se conhecerem, qual foras as impressões iniciais nem coisas do tipo, apenas começa a narrar normalmente como se o leitor já fizesse parte da trama. Isso garante um aspecto bem interessante e dinâmico à leitura.
Voltando ao século XVIII, Louis conta como conheceu um vampiro, de nome Lestat (interpretado no filme por Tom Cruise), que o transformou no que ele é então. As motivações me parecem muito bem engendradas e muito bem costuradas de forma a não apresentar as personagens de forma frívola nem superficial, mas mostra sobretudo com os acontecimentos em si o que e como as coisas se passam na "alma" de cada uma. O filme, como toda adaptação, transforma ligeiramente as personagens para encaixá-las numa história sem a profundidade possível numa narrativa escrita. Ou seja, transforma e formata as personagens a que se enquadrem no perfil de personagens de cinema. Isso poderia ter dado muito errado, mas não deu. Talvez pelo brilhantismo dos dois atores principais que encarnam muito bem os dramas de cada um.
Lestat
O livro segue narrando como foram os primeiros anos da vida de Louis ao lado de  Lestat e como a frustração da eternidade sem resposta acaba por corroer a frágil linha que mantinha o respeito de um pelo outro e os mantinha harmoniosamente unidos. A história até ai trata da vida de duas "pessoas" que se mantém unidas pelo desprezo e ódio, que por sua vez não lhes permite ver além da imagem que formam do outro. Até onde o medo e a ignorância podem ligar duas vidas? Até que ponto o terror pode ser um fator de integração e não de afastamento. Neste ponto o filme traduz de forma absolutamente fiel os sentimentos de repulsa que os dois sentem mutuamente. Me pergunto até que ponto a atuação de Tom Cruise suplanta neste momento o caráter ainda em formação da personagem interpretada por Brad Pit.
Cláudia
O livro segue narrando como os dois chegam ao limiar do suportável e como Lestat transforma uma criança no elo de ligação dos dois já que é incapaz de dar algo mais. Surge neste momento a personagem Cláudia (interpretada no filme pela atriz Kirsten Dunst). Cláudia é uma menina entre cinco e seis anos que perdeu a mãe vítima de uma praga que assolou a cidade de Nova Orleans e que desperta no próprio Louis um desejo tão forte que o leva a se alimentar dela apesar de ser tão perturbado pelo ato de tirar uma vida inocente. Antevendo a fragilidade de Louis, Lestat resolve transformar a menina em uma vampira e filha do "casal". Aparentemente as coisas se ajeitam e os três conseguem uma paz fria vivendo lado-a-lado na cidade de hábitos e sangue franceses no coração da Luisiana. É interessante notar que o filme conscientemente opta  por uma atriz mais velha já que a sensualidade e horror que exalam da pequena vampira são tão incompatíveis com a idade, com a graciosidade e "pureza" que a infância lhe proporciona. Cláudia é na verdade uma mistura da natureza assassina, fria e calculista de Lestat e da intelectualidade de Louis. Dentro de poucos anos a menina supera os dois em suas características e se torna um "belo anjo negro" que se delicia com a morte e sofrimento dos humanos que atravessam seu caminho. O filme atenua essa característica porque não haveria no mundo uma criança sã capaz de interpretar esse papel monstruoso.
Louis e Cláudia
A fragilidade da vida conjugal dos três é quebrada por Cláudia forçando Louis a fugir com ela para a Europa enquanto procuram nos antigos vampiros de lá as respostas que Lestat foi incapaz de dar. Neste ponto, a trama ganha novo vulto, mostrando de forma perturbadora a natureza diferente entre Louis e os outros vampiros, e as implicações que a transformação de Cláudia, ainda criança, em vampira impões aos dois. o filme resume essa parta da história mas consegue de certa forma apresentar o conteúdo psicológico de outras formas.
Lestat
Vou parar minha narrativa por aqui para não incorrer no risco de colocar spoillers. O que gostaria de dizer é que o livro como um todo me fez sair bastante do âmbito do vampirismo e fazer uma interpretação da alma humana que por algum motivo ganha algum diferencial das outras que a cercam. O que torna alguém especial e qual é o lugar dessa pessoa no mundo? Como viver em sociedade sendo você mesmo e, muitas vezes, não entendendo o que isso significa? Essas são perguntas que povoam minha mente enquanto leio essa obra. Creio que todo o brilhantismo de Anne Rice esteja não só na narrativa em si mas principalmente em como ela opta por colocar os clichês de lado e tratar o vampiro como uma experimentação daquilo que todos nós trazemos dentro de nós mesmos. Anne não se atém ao que seria mais óbvio mas explora o irrealis de forma inovadora, onde o vampirismo não é centro da leitura, mas a própria alma e as questões que se colocam frente a todos que escolhem perceber um motivo para suas existências. Essa é uma leitura luxuriante e sexual onde o que se insinua é sempre mais forte e importante do que aquilo que os sentidos captam em primeiro plano. Na verdade a história se apresenta como um jogo de luz e sombras usando os contrastes fortes como mecanismo narrativo e de persuasão para aqueles que estejam dispostos a perceber as sutilezas de cada personagem. Anne convida o leitor a se tornar um vampiro e usar suas habilidades e sentidos apurados para ver o que não parece ser e entender o que não está posto em um jogo de gato e rato que se passa na mente do leitor e não nas páginas do livro. Infelizmente isso se perde com a adaptação para o cinema já que a linguagem é diferente.
Anne Rice foi também a primeira a romper com os paradigmas até então medievais que cercavam a personagem do vampiro, trazendo-lhe uma humanidade desumana muito mais tangível para a nossa realidade. Criou também um universo paralelo onde o impossível pode ser alcançado mediante um preço que para alguns é alto demais.
Mas a pergunta mais primordial nisso tudo, e a questão que permanece como um bichinho carpinteiro correndo o cérebro do leitor atento é a motivação de Louis por trás da entrevista. O que ele queria realmente e o que esperava do entrevistador passivo que esteve a noite toda ao seu lado? Essa é uma pergunta para a qual só pode haver especulação. Talvez em outro dos nove livros haja uma resposta, quem sabe? Foi isso que me levou a cogitar a entrevista como sendo a própria personagem principal da história, inclusive porque sua presença constantemente paira sobre a narrativa.
À medida em que for lendo procurarei postar uma resenha sobre os livros. Porém gostaria de fazer uma última reflexão que foi motivo de uma conversa agradável entre eu e @lyndis_fm essa semana: Anne Rice X Stephenie Meyer!
Anne rompeu com a história tradicional do vampiro quando escreveu suas Crônicas Vampirescas, distanciando-se do clássico Drácula de Bram Stoker tanto quanto Stephenie se distancia das Crônicas em sua saga Crepúsculo. Temos ouvido tantas idiotices de fãs obcecados pelas Crônicas que me sinto na obrigação de dizer: OLHEM PARA AS PROPOSTAS ANTES DE FALAREM MERDA!
Anne tinha um objetivo ao voltar os olhos para outra origem para os vampiros assim como Stephenie tinha outro objetivo ao transformar os vampiros em uma espécie biologicamente explicável (ou não). O que une as três narrativas (Drácula, Crônicas e Crepúsculo) são os dilemas e implicações da natureza humana e animal unidas em uma personagem para tantos amaldiçoada e para muitos privilegiada: o vampiro. Não busque as semelhanças, busque as diferenças que transformam as semelhanças em algo singular e especial do qual você poderá retirar excelentes lições (ou não, depende de você).

Quero terminar ao modo Mikhaella, citando algumas partes do livro que resumem todo o desespero e busca que as personagens sentem:

- A grande aventura de nossas vidas. Qual o significado da morte quando se pode viver até o fim do mundo? E o que é "o fim do mundo", além de uma frase, pois quem sabe, ao menos, o que é o mundo? Já vivi dois séculos, vi as ilusões de um serem transferidas para o outro, sendo eternamente jovem e eternamente velho, sem possuir ilusões, vivendo cada momento de um modo que me fazia pensar num relógio de prata tiquetaqueando no vazio: o painel pintado, os ponteiros delicadamente esculpidos por mãos jamais vistas por alguém, sem olhar para ninguém, iluminado por uma luz que não era luz, como aquela sob a qual Deus fez o mundo antes de criar a luz. Funcionando, funcionando, funcionando, com a precisão de um relógio, em uma sala tão vasta quanto o universo. (Louis)

- Exatamente. Se você acredita que Deus criou Satã, deve compreender que todos os poderes de Satã provêm de Deus, que Satã é simplesmente filho de Deus, e que nós também o somos. Na verdade, não há filhos de Satã. (Armand)

- Sou perverso, tão perverso quanto qualquer vampiro que já existiu! Matei muitas vezes e voltarei a fazê-lo. Aceitei aquele menino, Denis, quando o ofereceu a mim, apesar de ser incapaz de saber se iria sobreviver ou não. (Louis)
- Por que isto o torna tão perverso quanto qualquer vampiro? Não há gradações de perversidade? Será o mal um imenso e perigoso poço onde se cai ao primeiro pecado, mergulhando até o fundo? (Armand)
- Sim, acho que é. - respondi. - E não é lógico, como você tenta aparentar. Mas é esta escuridão, este vazio. E não traz nenhum consolo. (Louis)

Quero acrescentar por último que essa análise não acaba aqui. Assim que puder ler o livro, Mikhaella fará um ensaio sobre ele e sobre a Saga Crepúsculo, analisando-os com a reverência religiosa que ela tem pela literatura e que é característica tão marcante de sua personalidade.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Adeus ao Professor Mario Martelotta

B"H Faleceu na noite de ontem um dos mais importantes linguístas do Brasil, o Prof ° Dr° Mario Eduardo Toscano Martelotta. Termina então a luta ferrenha que o professor vinha travando contra um linfoma já há alguns meses. Martelotta não foi apenas um professor de linguística brilhante, pesquisador exemplar e amigo querido, foi o responsável por dezenas, se não centenas, de jovem graduandos que se apaixonaram por linguística, dentre os quais se inclui este que vos fala. Martellota vai deixar uma lacuna dolorosa no corpo docente da Faculdade de Letras da UFRJ, seu habitat natural e onde montou sua história acadêmica. Deixa atrás de si um sem número de publicações importantíssimas na área da linguística, amigos devotados, alunos apaixonados e familiares queridos. Sem medo de cair no clichê, Martelotta entra agora para o hall dos imortalizados por seu trabalho, dedicação e amor, características com as quais sempre tratou sua profissão. A Equipe Mapittom entristece-se e solidaris

Eu odeio o Superman

B"H  Olá galera viciada em quadrinhos (digo isso porque nem todo nerd é)! Resolvi escrever esse manifesto anti-Superman por algum motivo que não me lembro... Em fim... EU ODEIO O SUPERMAN!!! Vários são os motivos pra isso mas acho que não é tolice dizer que ele me lembra os bullies do colégio. Ele se sente o bom, o gostoso, o inteligente, o sábio, etc... Ele não é nada além de alguns quilos de carne criptoniana. Ele não seria nada sem o nosso Sol amarelo e quentinho (eufemismo é ótimo) pra lhe dar alguns poderes. Além disso ele se acha melhor do que todo mundo. Inclusive eu o culpo por Lex Lutor ser um psicopata/sociopata. Ele é um imbecil que olha todo mundo de cima (literalmente, porque tem essa mania besta de ficar voando por ai). Eu prefiro muito mais o Batman. Claro! Ele sabe que é doido, (e ele é mesmo) e não se sente culpado nunca. Ele é sociopata mas sente orgulho disso. Não tem nenhum dom especial além de ser um nerd completo e absoluto que quer que o mundo se ex