Pular para o conteúdo principal

Ler? Pra que?

Sobre o que será que vou dizer agora? Não, não é uma resenha. Não, também não é sobre nenhum lançamento. E muito menos um escândalo de algum escritor, seja porque foi acusado de plágio ou infidelidade (digo isso porque em alguns países para uma pessoa pública isso parece ser pior do que um homicídio, não que eu seja a favor da infidelidade que fique bem claro. Epa! E dos homicídios também. Já tô me complicando aqui). O assunto na verdade é bem simples: o hábito da leitura.
Para que tudo fique mais claro ainda vou falar um pouco a meu respeito e me colocar como exemplo em algumas situações, para uma melhor compreensão da minha própria tese. Acho que posso me considerar, desde sempre,  amante dos livros, uma vez que antes mesmo de saber ler já era cercada por eles, mesmo que fossem cobertos de figuras ou com aqueles disquinhos infantis (exatamente, é da época da mui querida vitrola que estou falando). A explicação disso se dá no fato de que minha mãe é fonoaudióloga (eu sei que essa explicação parece absurda mas acredite, não é uma brincadeira). Para quem não é filho de profissionais da área de saúde ou da educação vou explicar um fato. Há um fenômeno que acredito (pelo menos é algo que comprovo em todos os que conheço, e aí está o Ariel que pode ser minha testemunha pois, se enquadra no caso) que todo filho de profissionais dessas áreas passa, que é ser cobaia de quase todas as teorias das suas faculdades. Logo, ela me cercou de tudo que pudesse ser construtivo para a minha educação e óbvio o livro era um ingrediente que não podia faltar (o que agradeço muitíssimo).
Mas o que pude comprovar e o que de fato quero tratar neste post (sério minha intenção não é fazer um diário por mais que possa parecer) é sobre como a leitura é tratada pela maioria; a falta de intimidade, a característica de obrigação que o hábito de ler toma e principalmente, e talvez o maior dos pecados, a perda do privilégio que é descobrir algo novo a cada página virada. Talvez, penso eu, por causa da maneira como o livro sempre foi tratado ao meu redor, eu tenha demorado um pouco a identificar um erro no sistema do qual só a pouco me dei conta. Que há muito o hábito de ler passou a ser somente parte do currículo escolar. Ele passou de entretenimento e busca pela informação para algo do qual não se pode fugir (embora isso não impeça ninguém de tentar).
As aulas de literatura que deveriam nos aproximar de romances célebres que tirariam nosso fôlego se déssemos uma chance, hoje em dia já vem programados para que saibamos o que procurar, pois o motivo de lê-los ficou resumido a identificar a qual período literário eles pertencem, quais características marcam isso, quais os possíveis diálogos sociais... É óbvio que existe um cronograma a ser seguido, e que deve existir para que haja ordem. O meu questionamento não é, de maneira alguma, sobre o que é ensinado, mas como. Essa é a grande questão para mim. Será que estão realmente focando no ponto certo? Minha opinião é de que não. Um hábito de leitura traz muito mais do que um vislumbre de um mundo fantástico, uma história de amor ou uma crítica política. Não era uma simples coincidência o fato dos matemáticos da antiguidade serem filósofos e escritores polivalentes. É preciso estimular a nossa capacidade de raciocínio, e separar o pensamento do “raciocínio lógico” é um grave erro que muitos insistem em cometer.
Mas o pior, é que até mesmo no nosso meio, onde há grande parte de leitores, por conta deste tipo de ensino falido, estão deixando de enxergar a beleza de Shakespeare, de se maravilhar com o universo de Tolkien (Também fiquei chocada, mas é verdade. Foi inclusive a minha principal motivação para este post) e perdendo mais do que obras incríveis, mas deixando toda uma filosofia sem a qual não seríamos o que somos hoje, uma vez que somos fruto de uma série de pensamentos e acontecimentos passados (Eu estou me referindo ao mundo nerd, pra quem é lento e ainda não entendeu). Cada vez mais vemos pessoas recorrerem a livros de abordagem menos psicológicas e de mais fácil compreensão. O que não seria ruim, porém o que me preocupa é o por quê? Será que é mesmo por puro gosto ou será que não há um fator muito mais importante por traz? Um escritor assim como um pintor, escultor e um músico é um artista. Cada obra de um artista é mais do que um simples objeto, é parte da alma dele, um momento do qual não haverá outro, o que faz com que cada obra seja única. Ao possuir uma obra é como de certa forma “possuir” o próprio artista em si.
Creio que esse é um assunto para o qual devemos nos atentar o mais rápido possível, antes que a verdadeira essência do livro se perca, pois acho sinceramente que ao tirar das pessoas a capacidade de se surpreenderem com uma bela história, estamos impedindo também as pessoas de criarem suas próprias histórias.

“A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados” (René Descartes)

“Um dia, quando já não houver Império Britânico, nem República Norte-Americana, haverá Shakespeare; quando não se falar inglês, falar-se-à Shakespeare” (Machado de Assis)

Comentários

  1. larissa é totalmente bibliófila. aí biblioteconomia é definitivamente uma opção procê, fica a dica XD
    e leitura basicamente é um vício, depois q a gente começa... o problema é q nesse país não há o estímulo pra começar.

    ResponderExcluir
  2. B"H Já falei pra ela fazer biblioteconomia, mas tá difícil.

    ResponderExcluir
  3. talvez seja até bom, pq ela já é louca por livros, depois... pqp, a casa dela vai virar uma biblioteca e ja viu né... a casa cai literalmente, pq livro, livro pesa mto XD

    ResponderExcluir

Postar um comentário

B"H
Obrigado por comentar. O mais breve possível sua mensagem será incorporada ao blog.

Postagens mais visitadas deste blog

O Adeus ao Professor Mario Martelotta

B"H Faleceu na noite de ontem um dos mais importantes linguístas do Brasil, o Prof ° Dr° Mario Eduardo Toscano Martelotta. Termina então a luta ferrenha que o professor vinha travando contra um linfoma já há alguns meses. Martelotta não foi apenas um professor de linguística brilhante, pesquisador exemplar e amigo querido, foi o responsável por dezenas, se não centenas, de jovem graduandos que se apaixonaram por linguística, dentre os quais se inclui este que vos fala. Martellota vai deixar uma lacuna dolorosa no corpo docente da Faculdade de Letras da UFRJ, seu habitat natural e onde montou sua história acadêmica. Deixa atrás de si um sem número de publicações importantíssimas na área da linguística, amigos devotados, alunos apaixonados e familiares queridos. Sem medo de cair no clichê, Martelotta entra agora para o hall dos imortalizados por seu trabalho, dedicação e amor, características com as quais sempre tratou sua profissão. A Equipe Mapittom entristece-se e solidaris

Doces Lembranças da Infância e Laura Ingalls

B"H Olá pessoal! Hoje eu quero fazer uma coisa um pouco diferente. Na verdade não é bem que eu queira, mas essa idéia se infiltrou em meu cérebro como um pequeno bichinho carpinteiro e me amolou o juízo até que eu cedesse. Vou misturar um pouco um momento nostalgia (pra mim) com uma resenha de livro. Quero falar um pouco de uma das épocas mais felizes de minha infância. É comum que quando pequenos nós achemos que nossa vida é cheia de tristezas (e eu tinha muitos motivos para isso) mas, quando olhamos para trás, notamos que haviam muitos momentos eternos onde a felicidade era como um grande e caloroso abraço, nunca desejávamos que acabasse. Eu gostaria que todas as pessoas do mundo pudessem olhar para a própria infância e lembrassem de algum livro que as tenha marcado. No meu caso foram especialmente dois: O Pequeno Lord , da autora anglo-americana Frances Hodgson Burnett, e um outro que falarei mais adiante. Nasci no Rio de Janeiro em Dezembro do ano de 1984 e logo em Dezem

Um rápido olhar em "Memnoch"

B"H Olá pessoas! Essa é sem dúvida alguma a resenha mais difícil que vou fazer. É difícil por vários motivos que vou tentar descrever aqui, antes de começar a falar o enredo do livro. Todos sabem, ou já é mais do que hora de se darem conta, de que Anne Rice é uma escritora gótica, e que isso tem muitas implicações estilísticas, de abordagem e de temática que estão muito além da minha capacidade e paciência de colocar aqui em palavras. Na verdade Memnoch  me cansou, me esgotou, como qualquer literatura gótica bem feita. Porque é pra isso que se destina. O desejo é muito simples, fazer o leitor entrar tão profundamente em análises psicológicas, existenciais, comportamentais e filosóficas que acabe exaurido em suas forças. É exatamente assim que me encontro enquanto escrevo. Estou com enxaqueca e com os olhos cansados de tanto ler, meras cinqüenta páginas (as últimas cinqüenta). Quem está habituado a narrativa da Anne terá um choque, e quem não está dificilmente será capaz de ter