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Barba, kipá, trocadores de van e ponte Rio Niterói

B"H

Você já saiu de casa um dia e reparou que era o centro gravitacional do mundo? Sério, isso já deve ter acontecido com você antes. É claro que sempre existe algum fator relevante envolvido no caso, como: a sua roupa cara, sua nova cor de cabelo ou algo do gênero. O problema é que às vezes esse fator pode ser alguma coisa não interessante. Eu vivo isso cada vez que saio na rua, e por um motivo nada legal. Barba. Eu tenho barba. Eu tenho uma barba de uns quatro dedos abaixo do queixo. Sinceramente não entendo o que pode haver de errado com um cara que resolve ter uma barba. Eu fico olhando esses caras que pintam o cabelo de louro apesar de serem negros ou bastante morenos. Eu fico imaginando se alguém zoa a cara deles na rua. Na minha opinião isso é a morte do bom gosto mas isso é o que EU ACHO, não tenho nada haver com isso. Acho que ninguém se atreve a zombar da cara deles porque as pessoas tem medo de levarem um tiro no meio da cara. Aqui no Rio de Janeiro é assim. A merda é que eu não consigo NUNCA sair de casa sem ser apontado, zombado, xingado ou coisa que o valha. Pra deixar a coisa toda mais surreal ainda a maioria das pessoas que riem da minha cara são trocadores de van (na sua grande maioria criaturas expelidas do inferno) alunos de colégio público de baixa renda (isso não é preconceito, eu sempre estudei em colégio público) e empregados de oficina mecânica. Osama é o xingamento preferido de todos eles. Hoje um cara perto de casa (trocador de van ¬¬) foi o milionésimo a me dar esta alcunha.
Eu achei que meu kipá afugentaria esse tipo de idiota mas acho que ele já perdeu o efeito. Me lembro que há alguns anos atrás as pessoas tinham medo de mim na rua. Achavam que eu era terrorista ou alguma coisa assim. Lembro de uma vez que estava indo para Niterói (acho que ia na casa de um amigo) e peguei um ônibus muito entupido na Rodoviário Novo Rio. Eu não consegui passar da roleta até que o ônibus já tivesse na ponte Rio Niterói. Na época eu era chassídico (usava um kaftan preto que ia quase até o pé, usava peyot e chapéu), hoje não sou mais. Pra desgraça não ser pequena eu estava com um bolo dentro de um saco preto, ninguém além de mim sabia o que era aquilo. Nunca vi uma viagem de ônibus mais silenciosa do que aquela, ainda mais num ônibus lotado. Lembro que fui meio mal educado, apesar de não ser do meu feitio. Eu não conseguia me segurar então pedi (de uma forma um pouco imperiosa) para que um cara que estava sentado segurasse o embrulho pra mim. Ele concordou sem olhar pra minha cara. Na verdade ele não olhava pra lugar nenhum a não ser pra frente. Deve ter tido um baita torcicolo. A viagem seguiu tranqüila até a Ilha de Mocanguê. Esse é o primeiro ponto de ônibus depois da subida da ponte. E foi ai que eu me surpreendi. Quase todas as pessoas desceram. O problema é que a Ilha é da Marinha e não tem nada lá a não ser um quartel.
Coisas assim aconteciam comigo nos anos que se seguiram ao 11 de setembro. Às vezes era engraçado, às vezes era triste, mas em todas era constrangedor. Engraçado como agora eu sinto falta daquela época. Ao menos eu não era xingado. As pessoas tinham medo de mim. Lembro de uma vez que um cara me viu no ponto de ônibus e começou a gritar de dentro da van (esse era passageiro): "Cuidado! Ele tem uma bomba!". Naquele instante eu comecei a ver meu império do medo ruir igual ao de Sadam Hussein.
Queria ser o Magneto dos Xman para achatar essas vans com esses caras dentro. Pena que D´s não dá assas a cobra.

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